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sexta-feira, 30 de maio de 2008

Dia da Consciência Negra, respeito por favor !








O Dia da Consciência Negra é um dia celebrado no Brasil, dedicado a reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira, o que já deveria ter acontecido há vários anos atrás.
A data foi escolhida por coincidir com o dia da morte de Zumbi dos Palmares (o guerreiro da liberdade), em 1695. O líder negro Zumbi chefiou a maior comunidade de escravos fugitivos da história do continente americano, o Quilombo dos Palmares em Alagoas, derrotado e morto pelas tropas comandadas pelo bandeirante paulista Domingos Jorge Velho, em 20 de novembro de 1695, só entrou para a galeria dos heróis 300 anos depois. Essa data comemorativa só foi fixada no ano de 1995, provando mais uma vez o descaso que o povo negro tem perante a sociedade ainda preconceituosa.
Algumas entidades como o Movimento Negro (o maior do gênero no país) organizam palestras e eventos educativos, visando principalmente crianças negras, procura-se evitar o desenvolvimento do auto-preconceito, ou seja, da inferiorização perante a sociedade.
Segundo o IBGE, no Brasil os negros são correspondentes a menos de 10% da população. No entanto, como o critério é a auto-declaração, estima-se que a população negra seja muito maior. Porem muitos negros se recusam a colocar em entrevistas e pesquisas a opção negra nas questões, por ficar com receio de descriminação e inferiorização perante os demais componentes da sociedade.
Até então, o movimento negro precisava se contentar com o dia 13 de Maio, Abolição da Escravatura – comemoração que tem sido rejeitada por enfatizar muitas vezes a "generosidade" da princesa Isabel, ou seja, ser uma celebração da atitude de uma branca.
A história de vida dos negros sempre foi uma questão para ficarmos indignados, e o pior é que somos uma nação onde dizemos que temos heranças mestiças. Ora, esse mestiço vem desde antes, desde o período colonial, a partir dali o Brasil sofreu miscigenação constante, isso quer dizer que somos um pouco de índio, de branco, de ‘amarelo’ e de negros, nós viemos dessa mistura e então porque esse descaso com os negros?! Será que estamos vivendo numa sociedade onde o que vale é o white power (o poder branco), como já existe nos Estados Unidos?!
É hora de refletir e saber utilizar uma sociedade onde todos têm direito a voz e a vez. Esta na hora da sociedade limpar essa sujeira do pensamento e formar uma sociedade mais decente sem desmerecer a ninguém.
Como diz Gabriel o Pensador em uma de suas letras: “me responda se você descriminaria o Juiz Lalau ou o PC Farias / Não, você não faria isso não / você aprendeu que o preto é ladrão/... racismo é burrice... e se você é mais uma burro, não me leve a mal / é hora de fazer uma lavagem cerebral”.
Portanto faça sua parte e conviva igualmente perante todos, pois existem muitos negros que são considerados como um problema perante a sociedade, mas essa mesma sociedade esquece que existem brancos que cometem erros históricos e nem por isso são exilados da sociedade.


Precisamos acabar com esse lixo da nossa herança cultural, o racismo.

Marcos Oliveira Queiroz


Matéria postada no Jornal @ Nossa Voz (Barrocas-Ba) Novembro 2007.

Movimento Antiglobalização




O movimento Antiglobalização é uma corrente de protesto mundial que reúne diversos grupos contra o capitalismo e o modelo imposto pela globalização. O movimento abrange milhões de pessoas – sindicalistas, estudantes, agricultores, ambientalistas, membros de tribos, ativistas comunitários e veteranos de marchas pela paz e liberdade.
Os diversos participantes desse movimento se uniram na convicção de que uma nova era de paz e justiça mundial pode ser alcançada, por meio do fortalecimento das comunidades locais e da criação de um novo sistema internacional que valorize a cooperação acima da competição. Eles criticam o processo de uniformização das culturas e pregam uma mundialização produzida de forma economicamente justa, valorizando o que é local e procurando desfazer a hierarquia entre os povos.
Num mundo composto por uma imensa pluralidade cultural, os integrantes do movimento antiglobalização acreditam que não existem possibilidades do predomínio de uma cultura dominante, em detrimento das demais. Considerando a existência de inúmeras diferenças, econômicas, sociais e culturais torna-se inaceitável o sistema de globalização nos moldes atuais em que é evidenciado.
A globalização que é apresentada como sinônimo de desenvolvimento, de avanços tecnológicos capazes de diminuir distâncias, de proporcionar melhor qualidade de vida por meio das infinitas possibilidades de bens de consumo oferecidos, tem provocado a destruição de recursos naturais, a eliminação de línguas, a abolição de culturas e a imposição de uma visão de mundo uniforme, disseminada como sendo a correta. Como uma economia globalizada que não promove a melhoria das condições de vida da grande maioria dos habitantes do planeta, mas sim, a utilização de estratégias de dominação a partir de uma postura camuflada, revestida de interesses particulares, visando estritamente à acumulação de capital, o lucro das empresas. Efetivamente, os ativistas da antiglobalização posicionam-se rigorosamente contrários e se assumem como ferrenhos inimigos das grandes corporações simbolizadas por multinacionais, a exemplo da Mc Donald’s, Nike, entre muitas outras.
Os membros desse movimento emergente, defensores da democracia, da paz, do meio ambiente, da diversidade cultural e essencialmente das comunidades locais, têm a certeza de que a sociedade pode e deve progredir de uma maneira diferenciada, mais justa. No entanto, possuem consciência de que não é fácil desafiar o imenso poder das corporações transnacionais.
Contudo, pregam princípios pautados na “utopia” de uma sociedade igualitária, com uma melhor distribuição de renda, na revitalização das cidades, da esfera local, diminuindo o consumo vindo do comércio global e aumentando a vitalidade da própria comunidade. Consideram inadmissível a tomada de decisões que afetam e comprometem a vida de milhões de pessoas, num plano restrito, distante da realidade, das comunidades com as quais pouco se importam. Todavia, vale ressaltar, que não desconsideram a possibilidade de se tirar proveito de idéias novas e produtivas vindas do exterior, que possam promover benefícios a comunidade, ao meio ambiente. Mas, que essas idéias sejam implantadas com recursos e mão-de-obra próprias e locais.

Lorraine Lima Ferreira


Referência:

Disponível em:
www.taps.org.br/Paginas/estiloartigo01.html. Acesso em 28 de maio de 2008.

terça-feira, 27 de maio de 2008

O senso comum como um sistema cultural

A diferenciação entre as sociedades deve ser levada em consideração em todo e qualquer estudo, as sociedades são formadas a partir de práticas herdadas, crenças aceitas, juízos habituais. Toda humanidade é composta de filosofias, artes, religiões e/ou ideologias, que garantem a preservação da propriedade comum. Então é extremamente difícil definir um único tipo de cultura predominante já que existem vários costumes sistematizados em pontos diversos do espaço.
O senso comum é levado em consideração por fazer parte da vida humana como um todo, acaba englobando diversos aspectos norteadores do cotidiano como a religião, a ciência e a ideologia. O bom senso e a falta do bom senso é uma questão “relativa”, pois a construção do senso comum acaba tendo diversificações perante cada simbologia. Cada sociedade tem capacidade de ser exclusiva.


A antropologia nos pode ser útil aqui da mesma forma que é útil em outras situações: ao fornecer exemplos extraordinários, ajuda a situar exemplos mais próximos em um contexto diferente. Se observarmos a opinião de pessoas que chegam a conclusões diferentes das nossas devido à vivência específica que tiveram, ou porque aprenderam lições diferentes com as surras que levaram na escola da vida, logo nos daremos conta de que o senso comum é algo muito mais problemático e profundo do que parece quando o ponto de observação é um café parisiense ou uma sala de professores em Oxford (CLIFFORD GEERTZ).


Essa problemática que nos é apresentada torna o senso comum bastante útil, como o exemplo da feitiçaria citada no texto de Clifford Geertz, onde para alguns olhares, o feitiço, não passa de uma coincidência, ignorância, estupidez ou como um aspecto que pode ser desmistificado pela ciência. Já para os azandinos é uma questão sobrenatural e místico que foi passado de geração para geração e a perpetuação através das mesmas práticas. Se observarmos outras culturas mais “desenvolvidas” podemos observar a crença acaba mudando de símbolo, mas não da sua simbologia, as superstições estão presentes em toda e qualquer sociedade, só que acabam ganhando resignificações ou uma nova moldura. Portanto um fato que vem a ser uma “aberração” para um tipo social, para outro não passa de uma forma corriqueira social e/ou vice-versa.
Sempre haverá diferenciações porque fomos enculturados, ou seja, sofremos um processo de modelação com relação a nossa cultura, então esse olhar diferenciado sobre costumes que fogem a nossa formação cultural acaba sendo mais uma forma de desigualdade social-cultural, pois admitimos uma única visão de cultura e subjugamos as culturas existentes em várias outras regiões. É preciso ter conhecimento que a partir das imagens, sons, dialetos, etc, é formada a identidade cultural de cada povo, sem a presença das crenças não existe cultura e obviamente o senso comum também deixa de existir, culminando assim no desaparecimento de um povo.
Contudo essa herança cultural pode acabar trazendo e perpetuando as formas de desigualdades que Melo cita em seu texto, porém como afirma Toynbee a “sociedade é a rede total de relações entre seus seres”, e é a partir da das imagens associadas e das imagens construídas que definimos a existência do movimento cultural, que, por conseguinte está sujeito a qualquer tipo de julgamento.

Marcos Oliveira Queiroz

REFERÊNCIA:

GEERTZ, Clifford. O Saber Local. Petrópolis, Vozes, 1998.

MELO, Luís Gonzaga de. Antropologia cultural: iniciação e temas. Petrópolis, Vozes, 1987.

A geografia e a cultura

Santos (2001) sinaliza as fábulas que a globalização impetrou no imaginário social, de forma a induzir a crença na simultaneidade das ações, que convergem os momentos vividos, dando ao homem a possibilidade de partilhar em tempo real o acontecer do outro. Nesse sentido, acredita-se na existência de uma aldeia global, alicerçando-se na desterritorialização da humanidade, que destituiu suas fronteiras e tornou-se una.
Nessa perspectiva Haesbaert (2004) desenvolve um estudo sobre o mito da desterritorialização, destacando que o encurtamento das distâncias, a compressão espaço-tempo e a fragilidade das fronteiras não provocaram o fim dos territórios. Ao contrário do que propõe Badie (1996) apud Haesbaert (2004), o território não foi abalado pelos progressos do multiculturalismo, nem tampouco ultrapassado pelos movimentos de mundialização, que tentam homogeneizar os valores e objetivos da humanidade.
Concordamos com Sherer-Warren (1993) quando esta afirma ser necessário diferenciar a homogeneização cultural de uma modernização seletiva. É, inclusive, através da própria globalização que surgem movimentos de afirmação identitárias, os chamados movimentos anti-globalização, que insurgem num contexto reacionário, questionador, buscando ainda mais resgatar suas raízes culturais, em contraposição atravr seus valores culturais.da mais resgatar seus valores culturais. avanços daializaçpo real o aco as premissas disciplinadoras, que tentam gerenciar nossas vontades e paixões. Dessa forma, a disciplina e antidisciplina fazem parte da mesma equação, tal como destaca Certeau apud Josgrilberg (2005).
O espaço geográfico não é homogêneo, ele é "fragmentado e articulado, reflexo e condicionante social, um conjunto de símbolos e campo de lutas" (CORRÊA, 2002, p. 9). Logo, é dotado de heterogeneidade, sendo vivaz pela sua dinamicidade das diferentes culturas, que coexistem e imprimem suas singularidades nas formas espaciais. É a diversidade e não a homogeneidade que identifica o espaço. Parece-nos que o interesse em caracterizá-lo através da perspectiva generalizante obnubila aspirações hegemônicas.
A geografia, por muito tempo serviu de alicerce para as bases civilizadoras, que através de uma hierarquização cultural baseada no viés determinista, subjugou diversas etnias, tornando-se não apenas conivente com o processo de sacarificação cultural, que tentou sucumbir experiências milenares em prol de novos comportamentos, mas tornou-se meio de operacionalização e justificação dessas perversidades sociais. Como ratifica Santos (2004) o chamado determinismo e possibilismo de Ratel e La Blache, respectivamente, serviram apenas para retardar a evolução da geografia.
Porém, essas teorias não provocaram somente a involução do pensamento geográfico, pois deixaram grandes cicatrizes, sobretudo nos povos inferiorizados a que outrora tem buscado desconstruir essas atrocidades históricas, defendendo a pluralidade cultural, abrindo-se ao sincretismo com respeito a diferenciação cultural, como destaca Scherer-Warren (1999).
Atualmente, além de convivermos com resquícios embrutecedores das idéias deterministas, que estereotipam pejorativamente a cultura nordestina, a cultura africana, por exemplo, ainda contamos com tecnologias avançadas de controle e dominação do individuo, que tentam impor um único modo de pensar e ainda cinicamente fazem-nos acreditar que somos livres, quando estamos sob forma de dominação. Nesse sentido, não é difícil encontrar geógrafos que oferecem subsídios a esses pensamentos elitistas. A guisa de exemplo, tem-se àqueles que pregam a homogeneização do espaço e a desterritorialização cultural, como foi supracitado.
Entretanto, segundo Claval (1997), a geografia cultural moderna tem desenvolvido abordagens bastante significativas, sendo norteada a partir de três eixos igualmente necessários e complementares:

(...) Primeiro, ela parte das sensações e das percepções; segundo, a cultura é estudada através da ótica da comunicação, que é, pois, compreendida como criação coletiva; terceiro, é apreendida na perspectiva da construção de identidades, insiste-se então no papel do indivíduo e nas dimensões simbólicas da vida coletiva (CLAVAL, 1997, p. 92).

A geografia valoriza os conhecimentos que o indivíduo apreende através das inter-relações sociais, investigando os discursos e suas respectivas representações, atentando para o processo de endoculturação, já que cada um mesmo estando sujeito a padrões instituídos de comportamento, imprime sua subjetividade, de forma que essas representações, "constituem um universo mental que se interpõe entre as sensações recebidas e a imagem construída em seu espírito" (CLAVAL, 1997, p. 93). Assim, da-se ênfase ao processo de interiorização individual, que dará novo sentido as representações postas. "Diferentes usos e diferentes práticas produzem uma pluralidade de resultados" (JOSGRILBERG, 2005, p. 84).
Os geógrafos também concebem a cultura a partir da circulação da informação entre os indivíduos, tratando a oralidade como elo social, pois é a partir da comunicação que as pessoas interagem entre si e que as culturas permanecem vivas na memória e nas práticas de um povo. Por meio dessa língua falada perpetua-se valores e simbologias culturais, possibilitando que diferentes gerações tenham conhecimento sobre as formas de vida e os costumes daqueles que lhes antecederam, fazendo com que a informação circule incessantemente entre os indivíduos.
É justamente por meio desses fluxos informacionais que se institui os padrões de comportamento, caracterizando a cultura como um "conjunto complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costumes e várias outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade" (MELO, 1987, p. 40). Mas, aqui cabe inferir a relação intrínseca entre cultura e identidade, logo, a cultura, não deve ser utilizada como veículo de homogeneização, que impõe ao indivíduo formas uníssonas de pensar e agir e que atribui juízos de valores a todos aqueles que não se adequam as suas concepções e hábitos culturais. Não se deve perder de vista o respeito a alteridade, bem como ter consciência de que várias culturas coexistem no espaço social, e que, portanto, elas não se superpõe.
A cultura dar "sentido à existência dos indivíduos e dos grupos nos quais eles estão inseridos" (CLAVAL, 1997, p. 96). Nessa perspectiva, como posso intervir naquilo que dá sentido a vida do outro? Como posso tentar impor as minhas concepções, de forma desterritorializar culturalmente o outro? Como posso ser perverso a tal ponto, de negar a sabedoria do senso comum e ocultamente utilizá-las com interesse mercadológico, tal como fazem alguns farmacêuticos com a sabedoria popular indígena?
É extremamente necessário que reconheçamos a existência e atuação das tecnologias que tentam gerenciar nosso tempo, nosso corpo e nossa mente, para que possamos estar atentos e reflexivos sobre a nossa conduta perante esses abusos de dominação, e que não venhamos a materializar resultados que sustentem ainda mais essas idéias perversas e excludentes, tal como fez a geografia por algum tempo. Assim, enfatizamos o desafio de se pensar na interculturalidade como forma de harmonizar as relações humanas e de respeitar as concepções do outro, vivendo a partir do que Santos (2001) denomina de sociodiversidade.
Jamille da Silva
REFERÊNCIAS:
CLAVAL, Paul. As abordagens da geografia cultural. In: CASTRO, I. E. et all. Explorações Geográficas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.
CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço urbano. São Paulo: Ática, 2002.
COSTA, Rogério H. da. O mito da desterritorialização: do "fim dos
territórios" à multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.
JOSGRILBERG, Fábio B. Cotidiano e invenção: os espaços de Michel de Certeau. São Paulo: Escrituras Editora, 2005. (Coleção ensaios transversais; 32)
MELO, Luís Gonzaga de. Antropologia cultural, objeto e método. In: MELO, L. G. de. Antropologia cultural: iniciação, teoria e temas. Petrópolis: Vozes, 1987.
SANTOS, Milton. Por uma Geografia Nova. 6 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004.
______. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 5 ed. Rio de Janeiro: Record, 2001.
SHERER-WARREN, Ilse. Cidadania sem fronteiras: ações coletivas na era da globalização. São Paulo: Hucitec, 1999.
______. Redes de Movimentos Sociais. 2 ed. São Paulo: Layola, 1993.

O senso comum e a vida cotidiana

Imprescindível é reconhecer a importância de nossas práticas cotidianas inseridas no contexto amplo de manifestações do senso comum, pois, são concernentes ao ser, ao ter, ao fazer, ao querer e ao viver em si. Trata-se de visualizar na vida banal e corriqueira como as necessidades e facilidades de sobrevivência se traduzem em atos culturais.
Propagam-se incessantemente visões estereotipadas da cultura, sujeitando-a ideologicamente a assumir valores nem sempre condizentes com a totalidade de sentimentos, emoções, ações, palavras, experiências e vivências ligadas a sua essência. Ou seja, os modelos supérfluos e efêmeros de vida de alguns indivíduos forjam almejos e valores sobre coisas que não lhes possibilitam estar condignos na inserção em questões relativas a vida do homem, como é o caso da cultura e do senso comum a ela atrelado. Neste sentido, Martins (2000) afirma que as instabilidades permanentes na vida cotidiana, são influenciadas por choques que interrompem a propagação do valor real dos fenômenos, com interpretações que, segundo ele, Schutz define como realidades múltiplas, na passagem de um mundo a outro, assim:

Embora a vida cotidiana seja o mundo que dá sentido aos demais, enquanto referência, aparece subvertida e alterada nesses outros mundos. O que nos mostra as descontinuidades que atravessam a vida cotidiana todos os dias (MARTINS, 2000, p.62).

Dessa forma, deve - se empreender ações objetivas e subjetivas no sentido de socializar a idéia de que a cultura é oriunda da ‘naturalidade’. Ela realiza-se e sempre realizar-se-á através das práticas cotidianas e do senso comum presentes no ‘meio’, negligenciando e/ou repudiando sua imagem propagada de objeto acessado e passível de constantes conceitualizações ou interpretações.
O senso comum é singular, e está intimamente relacionado aos gêneros de vida estabelecidos em diferentes contextos espaço-tempo. Ser não permissivo quanto a aceitação e valoração do senso comum é negar não somente o ‘outro’, como também a si mesmo. A verdade das coisas não deve ser vulgarizada de maneira tão banal como alguns desejam, desconstruir estes aparentes modelos de verdade é tarefa árdua, pois, trata-se de lidar com indivíduos que são complexos por inerência. Isso não é exagero, basta cada qual auto-analisar-se como elemento de um todo, e como ator num palco de encenação (existência) cujo objetivo é socializar-se e aderir mesmo que regidamente a estas socializações.
Assim, pode-se entender, em parte, que as relações sociais podem contribuir na eliminação de alguns equívocos no que se refere à compreensão do senso comum e da vida cotidiana. Em virtude disso, concorda-se com Martins quando expõe a idéia de que,

O senso comum é comum não porque seja banal ou mero e exterior conhecimento. Mas porque é conhecimento compartilhado entre os sujeitos da relação social. Nela o significado a precede, pois é condição de seu estabelecimento e ocorrência. Sem significado compartilhado não há interação [...] já que o significado é reciprocamente experimentado pelos sujeitos (MARTINS, 2000, p.59).

No mais, pretende-se incutir uma pequena centelha de inconformismo quando da análise que envolve a complexidade, valoração e propagação do senso comum como ato eminentemente cultural e cotidiano. Nós, indivíduos, pertencemos a um todo, que é a vida! Por isso mesmo somos diferentes e temos que respeitar e ser respeitados de acordo com as singularidades. No momento que surgem resistências e desvios quanto ao viver ‘naturalmente’ (bom senso), que não está pautado em regimes de controle, deve-se haver e/ou estabelecer uma transposição de situações imbuídas de respeito e análises não pré-julgadas, pois, a identidade cultural é um imaginário subjetivo e valorado por atores específicos.
Destarte, ninguém tem o direito de emitir juízo sobre fenômenos ou fatos antes de conhecê-los a fundo. Essa situação é muito complexa, já que nem mesmo os membros de uma cultura são capazes de absorver todos os elementos que a envolve. Enfim, compreender uma cultura depende, em parte, dos vínculos e das afinidades estabelecidos com ela, além da visualização do senso comum como um processo de endoculturação, onde os indivíduos de forma específica compartilham sensações, valores, ações, gestos, palavras e experiências num determinado meio vivente.


Hercules de Oliveira Ferreira


REFERÊNCIA:
MARTINS, José de Souza. A Sociabilidade do homem simples: cotidiano e história na modernidade anômala. São Paulo: Hucitec, 2000, 210p.

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